vol.1
n. 05_ modos de subjetivação na cidade 
vol.1
n. 05 _ modos de subjetivação na cidade
 
vol.1
n.4 _ corpografias urbanas  
 
vol.1
n. 3 _ cidade como campo ampliado da arte 
 
vol.1
n. 02 _ cidades imateriais  
 
vol.1
n. 01 _ paisagens do corpo   
   
 

CorpoSSA::: Capitães do Barbalho

Nesta edição, CorpoSSA traz o bairro Barbalho pela lente de um cearense, morador de São Paulo, que há pouco mais de um mês habita a Cidade do Salvador. Diogo Costa é figurinista de cinema e está na cidade trabalhando na adaptação do romance Capitães da Areia de Jorge Amado para a grande tela. Instalado junto com toda a equipe do filme no Forte do Barbalho, onde montaram o QG de pré-produção do longa metragem, ele passou a registrar – com sua lente atenta aos corpos e às cores e tecidos que os vestem – instantes ordinários do cotidiano daquele lugar, capturados em seus  momentos de vigília nos janelões do Forte e em suas passagens pelas ruas do bairro.

Atravessado pela narrativa de Jorge Amado, foi nas caminhadas ao azar de Pedro Bala e do Professor pelas ruas da Cidade da Bahia; nas rodas de baralho e pinga de João Grande, Querido-de-Deus e do Boa-Vida no bar Porta do Mar; no amor feito nas areias das docas “cama de amor de todos que não podem pagar mulher e têm sede de um corpo na cidade”; na paquera do Gato e Dalva, que se debruça faceira na sacada do velho sobrado do Pelourinho; … que Diogo se inspirou para montar esse ensaio fotográfico do Barbalho, onde os corpos por ele retratados, assim como os Capitães de Jorge, são “os donos da cidade, os que a conhecem totalmente, os que totalmente a amam, os seus poetas”.

Por::: edu rocha
fotos::: diogo costa
“entre aspas”::: jorge amado

 “Por último Don’Aninha veio onde estavam os Capitães da Areia, seus amigos de há muito tempo, porque são amigos da grande mãe-de-santo todos os negros da Bahia.”

 

“Boa-Vida era malandro e ninguém ama sua cidade como os malandros.”

“...porque os negros, mesmo quando estão andando naturalmente, é como se dançassem.”

 

“Professor desviou os olhos do livro, bateu a mão descarnada no ombro do
negro, seu mais ardente admirador:
- Uma história zorreta, seu Grande. - Seus olhos brilhavam.
- De marinheiro?
- É de um negro assim como tu. Um negro macho de verdade.
- Tu conta?
- Quando findar de ler eu conto. Tu vai ver só que negro...”

“Dora de longe sorria para Pedro Bala. Não havia nenhuma malícia no seu sorriso. Mas seu olhar era diferente do olhar de irmã que lançava aos outros. Era um doce olhar de noiva, de noiva ingênua e tímida. Talvez mesmo não soubessem que era amor.”

 

“- Eu penso fazer um dia um bocado de pintura daqui...
- Tu tem jeito, se tu tivesse andado pela escola...
- … mas nunca pode ser um troço alegre, não...
- Por quê? - Pedro Bala está espantado. - Tu não vê que tudo é mesmo uma beleza! Tudo alegre...
Pedro Bala apontou os telhados da cidade baixa:
- Tem mais cores que o arco-iris...”

“Os homens assim são os que têm uma estrela no lugar do coração. E quando morrem o coração fica no céu, diz o Querido-de-Deus.”

 

 

“Então a luz da lua se estendeu sobre todos, as estrelas brilharam ainda mais no céu, o mar ficou de todo manso (talvez que Iemanjá tivesse vindo também ouvir a música) e a cidade era como que um grande carrossel onde giravam em invisíveis cavalos os Capitães da Areia.”

Jorge Amado

Diogo Costa é graduado em Estilismo e Moda pela Universidade Federal do Ceará, diretor de arte e figurinista. Participou de filmes como "O ceu de Suely", "Mutum" e "Chega de saudade", atualmente na equipe do longa-metragem "Capitães da areia".